O ESCRITOR FERREIRA DE CASTRO NA EJA, COM O AMIGO FERREIRA DE SOUSA

O ESCRITOR FERREIRA DE CASTRO NA EJA, COM O AMIGO FERREIRA DE SOUSA

José Maria Ferreira de Castro, nasceu a 24 de Maio de 1898, em Ossela, Oliveira de Azeméis.

Casa onde nasceu Ferreira de Castro, hoje transformada em museu.

Depois de ter terminado os estudos primários, emigrou para o Brasil com apenas 12 anos de idade, para trabalhar como empregado de armazém no seringal Paraíso, na selva amazónica. 

Viveu durante alguns anos em Belém do Pará, aí prosseguindo com grandes dificuldades as suas primeiras tentativas literárias e publicando o romance juvenil Criminoso por Ambição.

Regressa a Portugal em 1919, dedicando-se ao jornalismo e à escrita, podendo-se catalogar a sua obra na categoria de literatura universal moderna, precursora do neo-realismo, identificada com a intervenção social e ideológica.

Desde 1956, que o escritor Ferreira de Castro, escolhe o Grande Hotel da Torre, em Eja, Penafiel, para tratamento e repouso. 

Esta estância reserva-lhe para além do quarto, um escritório para o escritor, ler, meditar e escrever quando para ali vem.

Mais propriamente no ano de 1966, começa a receber como visita assídua o Dr. Ferreira de Sousa, com quem vai cultivando amizade.

Ora calcorreando, ora sentados à mesa a conversa lá vai sendo desenrolada entre os dois.

Ferreira de Castro, lá lhe vai confidenciando que adora a paisagem circundante, como: As ruínas do balneário romano que se encontra nas Termas de S. Vicente, o Mosteiro de Paço que é uma relíquia arquitectónica do românico, escondido entre árvores.

Fala sobre a sua vivência no Brasil e frisa a simpatia fraternal entre o povo brasileiro e português, e pensa que está aqui o princípio duma humanidade toda unida na amizade.

Cada vez a sua estadia se prolonga por mais tempo nesta região, por vezes só regressando a casa no mês de Outubro.

Nestas amenas cavaqueiras, Ferreira de Sousa questiona-o porque é que ele não vai para as Caldas das Taipas, onde é tão bem recebido, acarinhado e admirado por aquelas gentes, que até lhe levantaram um busto em homenagem?!

Responde Ferreira de Castro bem-humorado:

- Então hei-de passar por mim todos os dias? Aborrece-me.

Manuel Pinto Ferreira de Sousa com o escritor Ferreira de Castro, em frente ao Café Turismo - Termas de S. Vicente em Julho de 1970 (foto da página do facebook de Manuel Pinto Ferreira de Sousa)

Numa tarde do final de Agosto de 1973, os dois sentam-se na mesa habitual do Café Turismo, na sala do rés-do-chão, saboreando um estimulante café.

Nesta altura, já a confiança entre o escritor Ferreira de Castro e o Dr. Ferreira de Sousa, era a suficiente para este último lhe ter lançado o barro à parede como se costuma dizer, e formular um pedido das suas obras literárias para a biblioteca de Penafiel, pois seria interessante para os seus leitores.

O escritor registou esse pedido realizado em Agosto de 1973 e no dia 19 de Outubro, chegam a casa do Dr. Ferreira de Sousa 17 volumes da sua obra, autografados pelo escritor com destino à Biblioteca Municipal de Penafiel. 

Esta generosidade do escritor Ferreira de Castro, ao doar os livros:

1 – Emigrantes

2 – A Selva

3 – Eternidade

4 – Pequenos Mundos (2Vol.)

5 – A Tempestade

6 – A Volta ao Mundo (3 Vol.)

7 – A Lã e a Neve

8 – A Curva da Estrada

9 – A Missão

10 – O Instinto Supremo

11 – As Maravilhas Artísticas do Mundo (3Vol.)

12 – Terra Fria

 e com uma dedicatória especial no romance “Emigrantes”, que muito nos honra e que diz o seguinte:

“Para a Biblioteca de Penafiel, com os melhores votos para a sua acção cultural e grande simpatia pelo povo e paisagens do concelho, Ferreira de Castro 1973”.

 

Todos estes livros foram entregues à biblioteca, ficando este acto lavrado em acta. 

Ferreira de Castro, faleceu a 29 de Junho de 1974, cerca das 23 horas, no Hospital Santo António do Porto, com 76 anos de idade.

Infelizmente, Ferreira de Castro, nunca agraciou Penafiel e o seu bom povo, com uma lembrança na sua produção literária.